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Serviço odontológico humanizado no SUS muda realidade de famílias com autistas

Serviço odontológico humanizado no SUS muda realidade de famílias com autistas

Garantir saúde bucal no sistema público já é um desafio para a maioria da população. Para pessoas com deficiência, especialmente autistas com hipersensibilidade sensorial, esse cuidado pode se tornar praticamente inacessível. Em Pelotas, um serviço especializado vem transformando essa realidade ao oferecer atendimento odontológico com acolhimento, escuta e, quando necessário, procedimentos realizados em bloco cirúrgico.

O modelo é desenvolvido no Hospital Universitário São Francisco de Paula, em parceria com a Universidade Católica de Pelotas. O atendimento foi tema do programa Contraponto desta terça-feira (29), com participação da professora Eliane Bitencourt, presidente da Amparho e ativista pelos direitos de pessoas autistas. A dentista Camila Amaral, coordenadora do serviço, também enviou uma mensagem destacando o funcionamento e os avanços dessa iniciativa pouco divulgada, mas essencial.

A importância do atendimento especializado para autistas e pessoas com deficiência

Para muitas pessoas autistas, o ambiente de um consultório odontológico tradicional é fonte de sofrimento. Barulhos intensos, luz direta no rosto e o toque invasivo são experiências que ultrapassam os limites sensoriais. “Nossos filhos muitas vezes não conseguem ficar num consultório odontológico, mesmo para procedimentos simples. Precisam de atendimento sob anestesia”, explicou Eliane Bitencourt.

A ativista destacou que o serviço oferecido no Hospital São Francisco, em parceria com a Universidade Católica de Pelotas, supre uma demanda antiga. Voltado a pessoas com deficiência que necessitam de sedação ou bloco cirúrgico, o atendimento tem como diferencial a abordagem humanizada. “O que estão fazendo ali é mais do que técnica. É carinho, é escuta, é atenção às pequenas coisas que fazem toda a diferença”, relatou.

Entre os relatos, Eliane lembrou o caso de uma técnica que se ofereceu para cortar as unhas de um paciente sob anestesia. “Talvez aquela mãe nunca tivesse conseguido fazer isso em casa. É esse tipo de olhar que transforma o cuidado em acolhimento”, disse.

Cuidado integral e novo fluxo de atendimento no SUS

Um dos avanços mais significativos do novo serviço é o fluxo ágil e acessível. Segundo Eliane, todos os exames pré-operatórios são organizados pela própria equipe, frequentemente concentrados em um único dia, o que reduz significativamente o tempo de espera. “Isso respeita a realidade de mães que já enfrentam tantos obstáculos para garantir os cuidados básicos dos filhos”, afirmou.

Antes da implementação desse modelo, o tempo médio de espera para uma cirurgia odontológica sob anestesia podia chegar a quatro anos. Hoje, segundo dados compartilhados pelas profissionais, o processo completo, do encaminhamento ao procedimento, pode levar menos de dois meses. “As cirurgias são semanais, e isso está diminuindo muito a fila”, completou Eliane.

Camila Amaral reforçou essa transformação em sua mensagem de áudio: “Os atendimentos já estão acontecendo no hospital. Recebemos pacientes encaminhados para intervenções em bloco cirúrgico — e sabemos o quanto esse acesso era difícil antes”.

Encaminhamento via UBS e importância da escuta qualificada

O acesso ao serviço segue os trâmites do SUS. Segundo Camila, ele se dá a partir das Unidades Básicas de Saúde (UBSs), onde o dentista ou clínico geral deve avaliar o paciente e, se necessário, encaminhá-lo à Secretaria Municipal de Saúde. O Gerenciamento de Consultas então organiza o agendamento junto ao hospital.

Eliane alertou para a necessidade de qualificar a escuta nas UBSs: “Nem sempre os profissionais entendem que o autista não consegue ser atendido no consultório. É fundamental que as mães expliquem que aquele atendimento ali não vai funcionar — e que o filho precisa ser encaminhado ao serviço especializado”.

A Amparho também tem atuado para orientar famílias que enfrentam dificuldades no acesso. “Esse é um serviço que pode mudar a vida de muitas pessoas, mas que ainda precisa ser mais conhecido e reconhecido pelas próprias instituições de saúde”, concluiu Eliane.

Serviço

Atendimento odontológico para pessoas com deficiência

Local: Hospital Universitário São Francisco de Paula, Pelotas

Descrição: Atendimento ambulatorial e cirúrgico para autistas e PCDs, com possibilidade de procedimentos em bloco cirúrgico. Projeto realizado em parceria com a Universidade Católica de Pelotas

Como acessar: Encaminhamento via UBS para a Secretaria Municipal de Saúde, que direciona ao Gerenciamento de Consultas

Contato adicional: A Amparho pode auxiliar famílias com dúvidas sobre o processo de acesso


Imagem: HU São Francisco de Paula/Arquivo


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