Entre brigadeiros de beterraba, empanadas assadas e mousse de maracujá sem açúcar, a Universidade Federal de Pelotas mostra que o conhecimento pode – e deve – ser servido à mesa. Durante a Fenadoce 2025, os cursos de Nutrição e Gastronomia da UFPel promovem mais de 20 oficinas gratuitas que unem cultura alimentar, educação nutricional e inovação na cozinha. O resultado? Um espaço vibrante de troca entre universidade e comunidade.

No programa Contraponto desta terça-feira (22), a RádioCom recebeu as professoras Mariana Mathias, da Faculdade de Nutrição e coordenadora do projeto Sabores na Escola, e Tatiane Gandra, vice-diretora da Nutrição e coordenadora do Gastronomia em Extensão. Elas contaram como os projetos da UFPel têm ampliado o alcance da formação universitária por meio da culinária, da escuta ativa e da valorização dos saberes locais.

Gastronomia em Extensão: ensino público em movimento

As oficinas oferecidas na Fenadoce são o resultado da articulação entre diferentes projetos de extensão da UFPel. A iniciativa Gastronomia em Extensão, coordenada por Tatiane Gandra, vem crescendo desde o período pré-pandemia e, em 2025, reúne quatro projetos integrados, com programação ao longo da semana e nos finais de semana. São aulas abertas, acessíveis, pensadas para aproximar a universidade da comunidade.

A receptividade tem sido intensa. Com 20 vagas por oficina, o espaço costuma lotar. Alunos, familiares, visitantes curiosos – todos se reúnem para aprender, degustar e compartilhar experiências. “Às vezes o público nem sabe que a UFPel tem um curso de gastronomia gratuito. Essa visibilidade é essencial”, afirma Tatiane. Muitos dos alunos que hoje ministram oficinas conheceram o curso participando das atividades em edições anteriores.

Além de ensinar técnicas culinárias, o projeto mostra que educação pública de qualidade também pode acontecer fora da sala de aula. “Essas oficinas são um momento de protagonismo para os estudantes. Eles brilham ali, se destacam, mostram seu talento para a comunidade”, explica Tatiane. O espaço também serve como ponte para futuros ingressos e conexões entre universidade e território.

Cultura alimentar: aprender com o que é nosso

Mais do que ensinar receitas, as oficinas promovem um diálogo com a cultura alimentar do Sul do Brasil. Pratos regionais, ingredientes locais e saberes tradicionais são celebrados e reinterpretados de forma criativa e saudável. “É uma valorização do que é daqui”, resume Tatiane. Entre os destaques deste ano estão as empanadas assadas, o Sul em texturas e sobremesas harmonizadas com espumantes.

A diversidade do corpo discente – com alunos de todas as regiões do Brasil – enriquece ainda mais as oficinas. A fusão de culturas culinárias aparece em receitas como o cuscuz com charque, que une referências nordestinas e sulistas em uma mesma preparação. As atividades também trabalham a adaptação de receitas para o cotidiano das famílias, pensando em acessibilidade e praticidade.

Essa valorização também aparece no projeto Sabores na Escola, coordenado por Mariana Mathias. As receitas desenvolvidas com as merendeiras da rede municipal utilizam os ingredientes disponíveis nas escolas, respeitando as limitações do Departamento de Alimentação Escolar. O desafio é criar pratos saborosos, nutritivos e viáveis com o que já existe. E os resultados têm surpreendido.

Alimentação escolar: educação começa pelo prato

Desde 2023, o projeto Sabores na Escola realiza oficinas com merendeiras da rede pública de ensino. O foco é desenvolver receitas saudáveis, sem adição de açúcar, utilizando ingredientes locais. “As crianças de até três anos não devem consumir açúcar na escola. Isso é uma regra nacional. Mas sabemos que elas chegam com esse paladar de casa. Por isso, o desafio é oferecer algo saudável e gostoso ao mesmo tempo”, explica Mariana.

A partir dessa proposta, surgem pratos como brigadeiro de beterraba, cookies de banana, mousse de maracujá sem açúcar e tortas de legumes. As oficinas não apenas ensinam, mas também aprendem com as merendeiras, que trazem seu conhecimento prático de anos de trabalho. “Elas estão alimentando o futuro. É um trabalho fundamental na área da saúde pública”, destaca Mariana.

Além das oficinas voltadas para as merendeiras, o projeto também tem atividades específicas para educadores da rede infantil. A ideia é envolver toda a comunidade escolar na promoção de uma alimentação mais consciente, saudável e conectada com a cultura local. “A escola pode ser um ponto de virada nos hábitos alimentares de uma criança. E isso impacta diretamente na saúde a longo prazo”, reforça a professora.

Comunidade, redes e protagonismo estudantil

A visibilidade das oficinas nas redes sociais tem crescido ano após ano. Perfis dos cursos de Nutrição, Gastronomia e dos próprios projetos divulgam receitas, dicas nutricionais, informações sobre oficinas e bastidores das atividades. “Os alunos são protagonistas nisso. Eles produzem vídeos, fazem a cobertura dos eventos, interagem com o público. Isso faz parte da formação também”, aponta Tatiane.

Projetos como esse só são possíveis com o envolvimento ativo dos estudantes, o apoio de parceiros e o acolhimento da comunidade. “A extensão universitária acontece no diálogo. A gente leva conhecimento, mas também aprende. E quando os alunos assumem esse papel com autonomia, o projeto floresce”, diz Mariana.

Os pratos preparados nas oficinas são, muitas vezes, replicados nas casas das pessoas, que compartilham os resultados nas redes sociais, marcam os perfis dos projetos e demonstram orgulho em fazer parte da iniciativa. É um movimento que vai além da cozinha: é uma ação educativa, cultural e transformadora, enraizada na missão da universidade pública.

Serviço

Oficinas Gastronômicas Gratuitas – UFPel na Fenadoce

Espaço da Gastronomia – Fenadoce

Até 3 de agosto

Vagas: 20 por oficina, por ordem de chegada

Temas abordados:

– Cultura alimentar e gastronomia regional

– Educação nutricional e releituras de pratos

– Formação para merendeiras e educadoras da rede municipal

Mais informações:

Instagram do curso de Nutrição da UFPel

Instagram do curso de Gastronomia da UFPel

Projeto Sabor na Escola

Gastronomia, Cozinha e Ciência

Site da Fenadoce

*Confira a entrevista completa no canal da RádioCom Pelotas no YouTube.