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Pelotas decreta emergência em saúde em razão de aumento de casos respiratórios e baixo nível de vacinação

Pelotas decreta emergência em saúde em razão de aumento de casos respiratórios e baixo nível de vacinação

Em meio a um crescimento expressivo dos atendimentos por síndromes respiratórias e uma cobertura vacinal abaixo da meta, a Prefeitura de Pelotas decretou nesta sexta-feira (30) situação de emergência em saúde pública. A medida, válida por 120 dias e prorrogável, busca agilizar contratações e garantir financiamento federal para reforçar a rede de atendimento, que já sente os efeitos da alta demanda.

O anúncio foi feito em coletiva com a presença do prefeito Fernando Marroni (PT) e da equipe da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), além de representantes dos hospitais e universidades da cidade.

Aumento expressivo de casos e alta procura por atendimento

Segundo os dados apresentados na coletiva por Naiana Oliveira, enfermeira e coordenadora da Vigilância Epidemiológica de Pelotas, o número de atendimentos por síndrome respiratória aguda no Pronto Socorro (PS) aumentou 75% entre os meses de abril e maio, enquanto no comparativo com o mesmo período do ano passado, o aumento foi de 23%. Na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) 24h, entre abril e maio de 2025 o crescimento foi de 93%, contraste bastante expressivo com 2024, quando os dados apresentaram queda de 72% nos atendimentos.

“A situação é preocupante para o início da sazonalidade de doenças respiratórias. Esse aumento é expressivo, especialmente quando comparado à redução que tivemos em 2024”, alertou Naiana.

Os dados locais contrastam com os paineis estaduais, que não indicam elevação semelhante. A diferença foi reconhecida pela Prefeitura, que preferiu agir preventivamente, seguindo recomendação do governo do Estado de decretar emergência diante de ocupação hospitalar acima de 99%.

Baixa cobertura vacinal aumenta o risco de agravamento

Outro fator que motivou a medida é a baixa adesão à vacinação contra a Influenza. De acordo com dados apresentados pela Vigilância Epidemiológica, Pelotas vacinou apenas 31,26% da população prioritária (crianças, idosos e gestantes), em linha com o índice nacional de 33,02%, muito abaixo da meta de 90% recomendada pelo Ministério da Saúde.

Para tentar reverter o quadro, a SMS mantém a vacinação em todas as unidades básicas de saúde (UBSs) e na Casa da Vacina, além de “ações extramuros” em instituições de longa permanência, escolas, IFSul, SMED, Polícia Civil, SANEP e no Shopping Pelotas. Um novo Dia D da vacinação está programado para 14 de junho.

Hospitais no limite e previsão de novos leitos

O plano emergencial prevê a abertura de 22 novos leitos (12 clínicos e 10 de UTI), além da ampliação da estrutura de atendimento nas unidades básicas e na UPA. A diretora de Atenção Primária, Cândida Rodrigues, também anunciou a expansão do horário de funcionamento de UBSs e a contratação de novos profissionais.

No entanto, representantes dos hospitais locais alertaram para os limites da capacidade instalada. O Hospital São Francisco já opera no máximo de sua capacidade e não tem como ampliar a oferta de leitos. Na Santa Casa, o diretor financeiro Sebastião Kaé condicionou a abertura de novos leitos à disponibilidade de recursos e equipamentos, com necessidade de investimento em leitos e um prazo mínimo de 20 dias para implementação.

Representantes do Hospital Escola da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) também relataram dificuldade para receber novos casos. A afirmação é de que o hospital já registrou aumento de 50% nas internações por Influenza nos últimos dois meses, com um óbito confirmado e outro ainda em investigação.

Investimento de mais de R$ 3 milhões mensais

De acordo com a Secretaria de Saúde, o plano de enfrentamento da crise prevê custos mensais de R$ 3.263.772,00. A verba terá sua destinação dividida entre manutenção de unidades de atendimento com turnos estendidos, contratação de profissionais, compra de leitos hospitalares e aquisição de equipamentos.

O prefeito defendeu a necessidade da medida: “Estamos agindo preventivamente para evitar o colapso. Esse decreto nos permite rapidez nas ações e acesso a recursos federais e estaduais”, afirmou.

O decreto autoriza a contratação emergencial de profissionais, o credenciamento de leitos e a compra de medicamentos e insumos, sem necessidade de licitação. A expectativa é que os contratos sejam formalizados nos próximos dias.

Ampliação da Atenção Primária e UPAIs

Dentro das medidas emergenciais, a SMS detalhou o plano de ampliação da Atenção Primária à Saúde (APS) e das Unidades Básicas de Atendimento Imediato (UBAIs):

  • UBSs: a partir de segunda-feira (3 de junho), as UBSs Sanga Funda e Barro Duro terão horário estendido até as 21h. Segundo a diretora de Atenção Primária, Cândida, o plano prevê ainda a ampliação de horário em mais duas unidades.
  • UBAIs: a partir de domingo (1º de junho), a UBAI Alvorada Navegantes oferecerá atendimento pediátrico especializado das 16h às 22h. E a partir de 7 de junho, o horário será ampliado para atendimento das 12h às 24h.
  • Plano de ação: até o final de junho, a expectativa é que as três UBAIs da cidade operem aos finais de semana com funcionamento ampliado, das 7h da manhã à 1h da manhã do dia seguinte — um total de 18 horas de atendimento diário.
  • Capacitação: também foi anunciada a realização de treinamentos para médicos e enfermeiros da Atenção Primária sobre o manejo de doenças respiratórias, além da produção de materiais informativos sobre sinais de alerta.

A diretora Atenção Primária destacou que a ampliação busca descongestionar o Pronto Socorro e as UPAs, oferecendo atendimento precoce nos bairros.

Máscaras e etiqueta respiratória

Durante a coletiva, a professora Silvia Macedo, da Faculdade de Medicina da UFPel, defendeu o uso de máscaras como medida preventiva. “Sabemos que as máscaras reduzem a transmissão de vírus respiratórios. Também é fundamental divulgar a etiqueta respiratória e reforçar a higienização das mãos”, disse.

A obrigatoriedade do uso de máscaras, no entanto, ainda está em análise técnica. A Secretaria de Saúde pretende elaborar um protocolo em parceria com universidades e hospitais antes de tomar qualquer decisão.

Profissionais temporários e desafios no atendimento

O plano da Prefeitura inclui a contratação emergencial de médicos, enfermeiros e motoristas para reforçar a equipe de vacinação e o programa “PS Cuida Mais”, que pretende atender em casa pacientes que não necessitem de internação.

Cândida reconheceu que o aumento da equipe é essencial, mas alertou para a necessidade de capacitação dos novos profissionais. A preocupação é evitar lentidão e baixa qualidade no atendimento, especialmente no pico da demanda.

A ação conta com o apoio da Universidade Católica de Pelotas (UCPel), do Hospital São Francisco e da Faculdade Anhanguera, que disponibilizou um posto de vacinação noturno. A Faculdade de Medicina da UFPel também participa da elaboração de protocolos e treinamento de equipes.


Texto de: Redação

Imagem: Ridley Madrid/RádioCom



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