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Edição da Manhã: Leo Alves denuncia apagamento histórico e defende justiça pela ditadura militar
A luta por memória, verdade e justiça ainda ecoa com força no Brasil, especialmente entre os descendentes das vítimas da ditadura militar. Para Leo Alves, ativista e músico carioca, neto do militante Mário Alves, desaparecido político durante o regime, revisitar essa história é essencial para proteger a democracia e reparar as marcas que atravessam gerações.
Durante entrevista ao programa Edição da Manhã da RádioCom Pelotas, Leo Alves falou sobre sua trajetória familiar, o trabalho do coletivo Filhos e Netos por Memória, Verdade e Justiça, e o seminário promovido pelo Instituto Mário Alves, que busca refletir sobre os impactos do regime militar nos dias atuais.
Uma história que atravessa gerações
Em sua primeira visita a Pelotas, Leo Alves destacou a importância simbólica e política do seminário “Ditadura e Democracia no Brasil: conhecer o passado e pensar o presente”. Ele ressaltou que a atividade tem papel crucial na preservação da memória histórica diante da ameaça constante do negacionismo. “É uma honra participar de uma iniciativa que constrói conhecimento e fortalece a democracia”, disse.
Leo contou sobre a trajetória de seu avô, Mário Alves, desaparecido em 1970 após ser torturado por agentes do regime militar. Militante histórico do Partido Comunista Brasileiro e fundador do PCBR, Alves atuou desde os anos 1940 em defesa de direitos iguais e contra regimes autoritários. “Ele lutava contra os nazifascistas desde jovem, foi um dos fundadores da UNE (União Nacional dos Estudantes) na Bahia”, lembrou o neto, emocionado ao pontuar que, hoje, tem a mesma idade que o avô tinha ao desaparecer: 47 anos.
A homenagem do Instituto Mário Alves, que embora não seja gerido pela família, é reconhecida por Leo como fundamental para o fortalecimento da memória coletiva. “O que mais admiro no Instituto é seu trabalho com a juventude e a defesa de uma memória ampla e plural da ditadura.”
O coletivo Filhos e Netos por Memória, Verdade e Justiça
Leo Alves é um dos coordenadores do coletivo Filhos e Netos MVJ, que reúne descendentes de pessoas perseguidas pela ditadura. Segundo ele, a construção do grupo sempre foi horizontal, sem protagonismos individuais. “Não é sobre destacar um nome, mas sim reunir gerações que sofreram efeitos diretos e indiretos da violência de Estado.”
O coletivo surgiu em 2014, em meio a um cenário politicamente efervescente marcado pelas Jornadas de Junho e pela instalação da Comissão Nacional da Verdade. “A audiência sobre o caso do meu avô, realizada na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, foi um marco para mim e para minha mãe”, contou Leo, relembrando o momento em que estiveram frente a frente com um dos responsáveis pela tortura de Mário Alves.
A iniciativa nasceu no contexto das Clínicas do Testemunho, programa de atenção psicossocial voltado a vítimas da ditadura e suas famílias. “O Brasil precisa retomar esse tipo de política pública para reparar traumas e combater o silenciamento que atravessa gerações”, alertou.
Anistia coletiva como reparação simbólica
Em 2024, o coletivo protocolou um pedido de anistia coletiva à Comissão de Anistia do Ministério dos Direitos Humanos. A proposta tem caráter simbólico, diferente das anistias individuais, e busca o reconhecimento oficial do Estado brasileiro sobre os danos causados às famílias das vítimas da ditadura.
“Essa modalidade foi retomada com a nova presidência da Comissão e já beneficiou outros grupos, como povos indígenas e camponeses”, explicou Leo. Segundo ele, o objetivo não é apenas obter o perdão formal, mas também garantir que as recomendações de políticas públicas para memória, verdade e justiça sejam efetivamente implementadas.
Entre os pontos elencados pelo coletivo estão a retomada da atenção psicossocial às vítimas, iniciativas educativas sobre o período da ditadura e a responsabilização dos agentes repressores ainda vivos. “É uma luta para que a justiça seja feita, como ocorreu na Argentina, onde centenas de torturadores foram presos..”
Serviço
Nome do evento: Seminário “Ditadura e Democracia no Brasil: conhecer o passado e pensar o presente”
Data: 10 a 12 de julho
Local: CEHUS/UFPel, Rua Alberto Rosa, 117
Gratuito: Sim
Forma de acesso: Participação presencial, com programação divulgada pelo Instituto Mário Alves
Confira a entrevista completa no canal da RádioCom Pelotas no YouTube.
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