Em tempos de crise climática e insegurança alimentar, Pelotas recebe a 21ª Semana do Alimento Orgânico com uma programação extensa e mobilizadora. Além de feiras e rodas de conversa, a agenda inclui um jantar agroecológico que promete reunir produtores, consumidores e entidades em um momento simbólico de celebração e resistência. O foco do evento está na valorização dos alimentos livres de agrotóxicos e na aproximação entre o campo e a cidade.

No programa Contraponto, da RádioCom Pelotas, os engenheiros agrônomos Roni Bonow (CAPA) e Fernando Horn (Emater/RS-Ascar) destacaram os objetivos da campanha nacional e comentaram a relevância da agroecologia na região sul do estado. A entrevista abordou desde os princípios da produção orgânica até as dificuldades enfrentadas por agricultores familiares.

Agroecologia é mais que alimento: é ciência, movimento e compromisso

Durante a conversa, os entrevistados reforçaram que a agroecologia é um sistema de produção que alia conhecimentos técnicos, culturais, éticos e ambientais. "A agroecologia é uma ciência, uma prática e um movimento. Ela não admite exploração de mão de obra, nem uso de transgênicos ou agrotóxicos", destacou Fernando Horn.

Segundo Roni Bonow, a produção orgânica também carrega compromissos sociais: "Defendemos uma agroecologia feminista e antirracista. Comprar um alimento numa feira agroecológica é, também, um ato político". O cuidado com a biodiversidade, com a saúde do consumidor e com a relação justa entre quem produz e quem consome são pilares fundamentais.

A entrevista também destacou os sistemas de certificação participativa, como o OCS (Organismo de Controle Social), em que os próprios agricultores fazem visitas e avaliações mútuas. "Isso gera um alto grau de responsabilidade e transparência. O consumidor pode visitar a propriedade, conhecer a produção e tirar dúvidas diretamente com a família agricultora", explicou Horn.

Escolhas que alimentam a saúde e a justiça social

Um dos pontos centrais da entrevista foi o papel do consumidor na promoção de um sistema alimentar mais justo. "Consumir alimentos da época, produzidos localmente e comprados diretamente das feiras é uma forma de economizar e ainda garantir mais qualidade", afirmou Bonow. Segundo os entrevistados, os preços dos produtos agroecológicos são muitas vezes equivalentes ou até mais baixos que os do mercado convencional.

Fernando Horn explicou que o objetivo da Semana do Alimento Orgânico é justamente reforçar esse vínculo entre o consumidor urbano e o mundo rural: "É na hora da refeição que as famílias se encontram. E esse momento precisa ser valorizado com alimentos de verdade, que promovem saúde e bem-estar".

Os agrônomos ressaltaram que a base alimentar atual está estreita e dependente de poucos produtos, o que compromete a segurança nutricional. "Precisamos diversificar a dieta com outros vegetais, tubérculos, flores comestíveis e alimentos menos conhecidos. Isso é um investimento em saúde e autonomia alimentar", concluiu Horn.

A resistência no campo: desafios e compromissos dos agricultores

A produção orgânica envolve uma série de cuidados e desafios específicos. Entre eles, está a necessidade de proteger as lavouras de contaminações externas, como os agrotóxicos usados por vizinhos. "O agricultor agroecológico é como um morador que precisa colocar grade na casa para se proteger. Ele é o responsável por impedir que os venenos cheguem à sua propriedade", comparou Horn.

Bonow complementou ressaltando o compromisso das famílias com barreiras naturais, espaços de transição e participação ativa nos grupos de certificação. "Esses agricultores são pesquisadores do seu próprio trabalho. Trocam experiências, aprendem com a prática e garantem um alimento de qualidade para a população".

O cuidado com o solo, a biodiversidade e o ciclo produtivo também foram destacados como diferenciais. "A agroecologia é resposta concreta à crise climática. São práticas que ajudam a mitigar os impactos ambientais e que são sustentáveis em longo prazo", disse Bonow.

A entrevista destacou ainda que a região sul do RS conta com cerca de 126 agricultores certificados, conforme dados atualizados de abril de 2025 no Cadastro Nacional de Produtores Orgânicos.

Uma semana de ação, consciência e celebração

A 21ª Semana do Alimento Orgânico mobiliza uma extensa rede de entidades e produtores com eventos em diferentes locais da cidade. As ações incluem feiras temáticas, oficinas educativas, rodas de conversa e visitas guiadas. Um dos destaques será a audiência pública que acontece no dia 27 de maio, na Câmara de Vereadores, para debater a Política Municipal de Produção Orgânica e Agroecologia.

Outro momento simbólico será o Jantar Agroecológico, marcado para a sexta-feira, dia 23 de maio, que inaugura a programação com um cardápio baseado em alimentos agroecológicos da região. O encontro promete ser um espaço de convivência, trocas e fortalecimento de vínculos entre campo e cidade.

As feiras agroecológicas têm papel central na campanha, funcionando não apenas como ponto de venda, mas como espaços de educação alimentar e aproximação com quem produz. "Quem ainda não consome alimentos orgânicos, essa é a oportunidade ideal para conhecer, conversar com os agricultores e entender todo o processo", convidou Bonow.

A expectativa é que a programação ajude a ampliar o público consumidor e a consolidar Pelotas como referência em agroecologia no estado.

Serviço

Feiras agroecológicas em Pelotas

- Feira da Dom Joaquim: sábados pela manhã

- Feira do Mercado Público: quintas-feiras à tarde

- Feira Akotirene (primeira feira quilombola do RS): sábados pela manhã, ao lado da Prefeitura

- Feira Serra dos Tapes (República do Líbano): quartas pela manhã

- Cooperativa Sul Ecológica: ponto de venda permanente, Rua General Argolo, 467

Alguns eventos da programação

24/05 – Feira Agroecológica AKOTIRENE – Biblioteca Pública Pelotense, das 7h às 13h

27/05 – Audiência pública: Política Municipal de Produção Orgânica e Agroecologia – Câmara de Vereadores de Pelotas, das 14h às 18h

29/05 – Feira Agroecológica ARPASUL – Biblioteca Pública, das 7h às 13h

Jantar Agroecológico

Data e horário: 23 de maio, às 20h

Local: Salão de Festas da ASUFPEL (Rua XV de Novembro, 262, Centro)

Descrição: Feijoada vegetariana com arroz, couve, saladas com PANCs e farofa

Bebidas: Comercializadas separadamente (suco e vinho orgânico)

Ingresso: R$ 40, à venda na Teia Ecológica (Praça Coronel Pedro Osório)

Organização: CAPA, Teia Ecológica, UFPel e entidades da Comissão Organizadora

Mais informações e programação completa: @saosulrs

*Confira a entrevista completa no canal da RádioCom Pelotas no YouTube.