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Contraponto: “Queremos segurança com clareza” – moradores cobram respostas sobre obras contra enchentes no Laranjal

Contraponto: “Queremos segurança com clareza” – moradores cobram respostas sobre obras contra enchentes no Laranjal

Medidas emergenciais não bastam: população exige transparência e planejamento duradouro

As enchentes que castigaram Pelotas nos últimos anos deixaram marcas profundas nos bairros da região costeira, especialmente no Laranjal. Entre diques improvisados, quebra-ondas e valetas obstruídas, os moradores convivem com a incerteza sobre o que foi realmente planejado para proteger o território. Em meio a promessas de obras definitivas e intervenções emergenciais, o sentimento predominante é de insegurança.

Na manhã desta terça-feira (22), a RádioCom recebeu no programa Contraponto a geógrafa Mariana Passos, moradora do Laranjal e mestre em Geografia pela FURG. Ativa nas mobilizações comunitárias, Mariana voltou aos microfones da emissora para comentar as audiências públicas convocadas pela Prefeitura, que ocorrem hoje à tarde na Z3 e à noite no Laranjal. O tema em pauta: o enfrentamento às enchentes e as ações previstas para as áreas afetadas.

Durante a entrevista, Mariana destacou a importância do encontro, mas também expressou a desconfiança da comunidade sobre os projetos apresentados até agora. “Recebemos um mapa no ano passado, sem memorial descritivo, sem detalhamento. Até hoje não sabemos o que está sendo feito, o que será feito, e quais prazos estão previstos. Isso precisa ser esclarecido com urgência”, afirmou.

O sentimento relatado pela geógrafa ecoa entre os moradores, que veem nas audiências públicas uma oportunidade para cobrar respostas concretas. Para ela, mais do que escutar a comunidade, o poder público precisa apresentar planos estruturados, com opções claras e cronogramas viáveis.

Limpeza de valetas, reforço de diques e dúvidas não respondidas

Nos últimos meses, a Prefeitura de Pelotas promoveu ações emergenciais no Laranjal, como a limpeza das macro e microdrenagens, a elevação da faixa de areia da praia e o reforço na taipa da rua Nova Prata. Segundo Mariana, essas iniciativas foram percebidas pela população, embora tenham acontecido de forma lenta. “A manutenção melhorou muito em relação ao ano passado, mas ainda não sabemos se isso faz parte de um plano estruturado ou se é apenas reação ao que já aconteceu”, disse.

Um ponto crítico é a relação com o canal São Gonçalo. No bairro Valverde, é ele quem costuma causar os primeiros alagamentos, antes mesmo da Lagoa dos Patos. “A Prefeitura fez um encaixe na drenagem pela Nova Prata, tentando conter o avanço do São Gonçalo, mas não sabemos exatamente como esse sistema funciona. Não há comunicação clara sobre isso”, relatou Mariana.

Ela também lembrou da promessa feita pela gestão anterior, que teria apresentado um projeto de grande porte para o bairro. “Na época, disseram que o projeto já estava pronto e aguardava recursos. Agora ouvimos da ex-prefeita – hoje secretária estadual – que o projeto nem existe formalmente. Isso gera confusão e desconfiança. Esperamos que essa audiência esclareça isso de vez”, reforçou.

A estrutura de contenção atual, como o quebra-ondas na beira da praia, é apontada por Mariana como necessária, mas insuficiente. “Há um conflito entre segurança e estética. Alguns moradores reclamam do visual da praia, mas eu acredito que neste momento a prioridade precisa ser proteger vidas. Só não podemos ficar reféns de soluções provisórias todos os anos”, afirmou.

Escuta qualificada precisa vir acompanhada de propostas concretas

A comunidade do Laranjal tem se mobilizado através de grupos de moradores e da ASCLAR (Associação Comunitária do Laranjal). As divulgações das audiências públicas foram feitas em redes sociais, grupos de WhatsApp e outros canais locais. Mariana ressalta que é preciso ir além da escuta simbólica. “É importante ouvir, mas também é fundamental trazer opções técnicas, mostrar alternativas reais. As pessoas precisam ter base para opinar”, defendeu.

Para ela, falta ao poder público apresentar propostas de engenharia com custos estimados e prazos claros. “Se o governo diz que podemos fazer barreiras móveis, muretas, estruturas hidráulicas, então queremos ver isso no papel. Sem projeto, não existe solução possível”, alertou.

Mariana propôs que a Prefeitura utilize ferramentas digitais como o sistema “SIM Pelotas” para ampliar a participação popular. “Todos os contribuintes têm acesso a esse sistema. Por que não enviar consultas públicas por ali? É uma forma prática de envolver mais gente nas decisões que impactam o bairro”, sugeriu.

Ela também comentou que o poder público deve orientar os moradores sobre os riscos reais, apresentar planos de contingência e criar protocolos para evacuação em casos extremos. “Hoje não sabemos o que fazer se houver uma cheia repentina. Isso não pode mais acontecer”, criticou.

Integração entre territórios e saberes: caminho para soluções eficazes

Mariana defende que o enfrentamento às enchentes só será eficaz se envolver as diferentes regiões costeiras da cidade. “As realidades da Barra, da Z3, do Valverde e do Santo Antônio são diferentes, mas interligadas. Precisamos nos comunicar, trocar experiências e atuar em rede”, explicou.

Ela elogiou a solução adotada na Z3, onde bombas foram instaladas para conter o avanço das águas na região do Cedrinho, área frequentemente alagada. Já na Barra, a principal reivindicação histórica é o acesso, que agora ganhou reforço com o levantamento da estrada – estrutura que também atua como dique natural.

Para Mariana, a integração entre moradores, técnicos e universidades é fundamental. “A UFPel, por exemplo, tem desenvolvido sistemas de monitoramento do nível da Lagoa. Isso é essencial para termos previsibilidade e responder com agilidade aos riscos”, destacou.

Ela conclui que o planejamento urbano de Pelotas precisa se tornar mais transparente e participativo. “A população tem conhecimento do território. Integrar esse saber com a técnica é o único caminho possível. As audiências são um primeiro passo, mas precisamos de um plano permanente de adaptação climática. Isso não pode esperar mais”, finalizou.


Serviço

Audiências Públicas – Regiões Costeiras de Pelotas

Data: terça-feira, 22 de julho

Tema: Enfrentamento às enchentes e medidas emergenciais


Z3 – Colônia de Pescadores

16h30

Quiosque da Z3 (Rua Ignácio Moreira Maciel, 07)


Laranjal – Balneário Santo Antônio

19h30

Laranjal Praia Clube (Av. Rio Grande do Sul, 129)


*Confira a entrevista completa no canal da RádioCom Pelotas no YouTube.


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