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Contraponto: Pelotas prepara as bases para ser exemplo de inovação e desenvolvimento mundial

Contraponto: Pelotas prepara as bases para ser exemplo de inovação e desenvolvimento mundial

Um novo movimento está surgindo em Pelotas, e ele promete mudar a forma como a cidade se conecta com o mundo. Instituições locais, que já são reconhecidas por sua excelência, decidiram dar um passo ousado: incrementar a internacionalização de suas atividades para fortalecer o desenvolvimento da região. O Programa de Internacionalização une o Instituto Federal Sul-rio-grandense (IFSul), a Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e a Prefeitura Municipal em uma parceria que busca gerar impactos reais na economia, na educação e na inovação.

Durante entrevista ao programa Contraponto, da RádioCom Pelotas, o diretor de Relações com a Sociedade do IFSul, Edgar Mattarredona, detalhou como essa iniciativa quer ir além de parcerias acadêmicas e consolidar Pelotas como uma referência internacional. A ideia é simples, mas poderosa: ampliar fronteiras para fortalecer o que é local, usando a educação, a ciência e a tecnologia como pontes para novas oportunidades.

Segundo Mattarredona, o projeto nasce de um protocolo de intenções que funciona como um grande guarda-chuva, permitindo que diferentes áreas e projetos possam se conectar a parceiros globais. “A internacionalização não é só assinar convênios com Europa e Estados Unidos. Queremos estar mais próximos da América Latina e da África, buscando relações que valorizem nossa história e nossa identidade”, destacou.

E é justamente essa proposta ampla e ambiciosa que promete posicionar Pelotas em um novo patamar, capaz de dialogar com os desafios e tendências de um mundo em constante transformação.

Quando internacionalizar significa transformar a cidade

Ao contrário do que muita gente pensa, internacionalizar não é apenas fechar acordos e assinar papéis. Para Edgar Mattarredona, a internacionalização precisa ser viva, prática e, sobretudo, gerar impactos. Ele explica que Pelotas tem uma história rica que dialoga naturalmente com a África e com a América Latina, e que esses laços culturais devem ser retomados de maneira consciente e planejada.

O IFSul, por exemplo, já é referência no Brasil em experiências inovadoras como as escolas binacionais. “Temos alunos brasileiros e uruguaios na mesma sala de aula, recebendo a mesma formação, algo raro até em nível mundial”, revelou. A ideia é expandir esse modelo para outros países, como Paraguai, Bolívia e Argentina, levando o conhecimento técnico aliado à cultura local.

Mas a visão vai além: o programa também quer usar a educação como ferramenta de diplomacia e desenvolvimento econômico. “O mundo está mudando rapidamente. Há uma reconfiguração das relações internacionais e precisamos estar preparados para buscar novos parceiros, novas oportunidades”, disse Mattarredona, destacando o protagonismo que países como China e membros dos BRICS ganharam nos últimos anos.

Essa abertura para o mundo não significa esquecer o que é local — pelo contrário. A proposta é fazer de Pelotas uma vitrine do que o Brasil tem de melhor: conhecimento, diversidade e capacidade de inovação.

Da teoria à prática: ônibus elétricos, novos empregos e uma cidade repensada

Se o discurso sobre internacionalização pode soar distante para muitos, Edgar Mattarredona faz questão de mostrar que os efeitos desse movimento já são concretos. Um dos primeiros exemplos citados por ele foi a chegada dos ônibus elétricos à cidade. “Isso exige uma reestruturação urbana completa, desde pavimentação até infraestrutura de abastecimento elétrico”, explicou.

E mais: a mudança não é apenas estrutural. Ela também impacta diretamente na formação de mão de obra qualificada. “Precisamos de técnicos e engenheiros preparados para lidar com essas novas tecnologias, e o IFSul tem tradição na formação de excelência em áreas como eletrotécnica e engenharia elétrica”, completou.

Outro ponto importante é a necessidade de adaptação dos profissionais às novas demandas energéticas. Residências que antes eram apenas consumidoras de energia agora também produzem, por meio de sistemas fotovoltaicos. “Isso exige um novo perfil de técnico. Quem não se adaptar, vai ficar à margem das novas exigências do mercado”, alertou o diretor.

Esses exemplos concretos mostram que a internacionalização e a inovação vão além dos discursos: já estão moldando o cotidiano da cidade e criando novas oportunidades de crescimento e desenvolvimento.

Como as empresas podem se integrar ao ecossistema de inovação de Pelotas

Mas onde entram as empresas nesse processo? Mattarredona explicou que Pelotas tem hoje um ecossistema de inovação ativo e inclusivo, pronto para receber tanto novas startups quanto empresas tradicionais que queiram se renovar.

O Pelotas Parque Tecnológico é o coração desse ecossistema. Diferente da maioria dos parques tecnológicos brasileiros, ele não é vinculado a uma única universidade, mas reúne todas as instituições de ensino superior da cidade — UFPel, UCPel, Unisinos, além do próprio IFSul. Dentro dele, convivem projetos de pesquisa, incubadoras de empresas e startups de tecnologia que nasceram em Pelotas e hoje atuam no mercado global.

Um exemplo citado por Mattarredona é a história da Melhor Envio, startup de logística que começou incubada no Parque Tecnológico e foi posteriormente adquirida por uma multinacional. Hoje, seus fundadores voltaram ao Parque para iniciar novos projetos — um ciclo de inovação que inspira e mostra a força do ambiente local.

Empresas que ainda não fazem parte dessa rede podem buscar apoio diretamente nas universidades ou no Parque Tecnológico. "Há grupos de inovação que dão suporte para quem quer entender ou aplicar inovação no seu negócio. Nós estamos lá para orientar, criar conexões e facilitar esse ingresso", explicou Mattarredona, que também atua como diretor técnico-científico do Parque.

Pelotas oferece um espaço propício tanto para a inovação nascente quanto para a transformação de empresas mais tradicionais, mostrando que é possível construir um ambiente econômico mais dinâmico e diverso.

O desafio da fuga de cérebros e como Pelotas pode reverter esse jogo

Um dos temas que mais preocupam quem pensa o futuro da educação e da ciência é a fuga de cérebros — o fenômeno de jovens talentos formados aqui buscarem oportunidades em outros estados ou países. Edgar Mattarredona reconhece o desafio, mas enxerga nele uma oportunidade.

Segundo ele, o trabalho remoto e a globalização mudaram completamente as regras do jogo. “Hoje, um profissional pode morar em Pelotas, ganhar em euro ou dólar e trabalhar para o mundo todo”, explicou. A chave, então, não é segurar fisicamente essas pessoas, mas criar uma cidade atraente o suficiente para que elas queiram permanecer.

Mattarredona reforçou que fatores como qualidade de vida, segurança e uma boa estrutura urbana são fundamentais para reter talentos. E deixou claro: Pelotas já é exemplo. “Temos startups que nasceram aqui, cresceram, foram adquiridas por empresas globais e continuam inovando dentro da cidade”, disse, citando o ecossistema do Parque Tecnológico como prova viva dessa transformação.

Para o diretor, Pelotas precisa fortalecer sua autoestima e comunicar melhor seus avanços. “Somos inovadores. Precisamos mostrar para nós mesmos e para o mundo que Pelotas está pronta para ser protagonista na nova economia”, concluiu.

*Confira a entrevista completa no canal da RádioCom Pelotas no YouTube.




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