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Contraponto: Nova gestão do canil de Pelotas aposta em sustentabilidade e participação social
Um novo modelo para o cuidado animal em Pelotas
O Canil Municipal de Pelotas está passando por uma transformação profunda. Depois de anos acumulando críticas e denúncias por má gestão e superlotação, a estrutura começa a ser redesenhada com base em dois pilares: sustentabilidade e participação social. A proposta é ambiciosa: transformar um serviço precarizado em referência nacional em bem-estar animal.
A iniciativa foi apresentada no programa Contraponto, da RádioCom Pelotas, pelo secretário de Qualidade Ambiental, Márcio Souza. Ele detalhou as ações emergenciais em andamento e anunciou o projeto de construção de um novo canil municipal. O espaço será desenvolvido por módulos e contará com tecnologias sustentáveis e diálogo constante com protetores e cuidadores da cidade.
Nova gestão, novo começo
A mudança mais imediata no Canil Municipal foi a substituição da gestão técnica. A médica veterinária Fernanda Rodrigues Mendonça assumiu o comando com a missão de reorganizar os processos internos e garantir previsibilidade nas ações. “Não havia licitação nem para ração, nem para medicamentos”, afirmou o secretário Márcio Souza.
Com a nova gestão, a Secretaria de Qualidade Ambiental passou a controlar diretamente a unidade. Entre as primeiras medidas está o controle rigoroso de estoque e o ajuste na rotina alimentar dos cães. Agora, os animais recebem ração duas vezes por dia, na quantidade adequada, evitando desperdícios e promovendo mais saúde.
A mudança de cultura interna é um passo necessário para que o novo modelo de gestão funcione. “Estamos estabelecendo uma administração racional e preventiva, com planejamento de médio e longo prazo”, disse Souza.
Canil sustentável e com foco comunitário
O novo canil de Pelotas será construído em etapas, com ampliação gradual da capacidade. A meta é atender até 130 cães em condições adequadas, prevendo também situações de emergência, como enchentes e outros desastres. Mas a estrutura física é apenas parte do projeto. O diferencial será a sustentabilidade e a possibilidade de envolvimento direto da comunidade.
Entre os elementos já previstos estão o uso de energia solar, reaproveitamento da água da chuva e instalação de biodigestores para transformar fezes dos animais em energia. O canil também será pensado para atrair parcerias com a iniciativa privada, tanto para sua manutenção quanto para apoio financeiro. “Queremos que esse canil seja um modelo, tanto para o Rio Grande do Sul quanto para o Brasil”, destacou o secretário.
Quanto ao financiamento, a prefeitura buscará recursos de diferentes fontes: emendas parlamentares impositivas, o orçamento municipal e colaborações com empresas privadas. No entanto, o desafio é grande. Segundo Márcio Souza, o prefeito Fernando Marroni herdou um déficit orçamentário de mais de R$ 105 milhões, o que exige criatividade e articulação política para viabilizar o projeto. Mesmo assim, o secretário garante que o trabalho já começou. “Não vamos esperar a construção total para ampliar o atendimento. O canil será entregue por módulos”, afirmou.
Castrações, adoções e cultura de cuidado
Durante a entrevista, o jornalista Ridley Madrid trouxe uma pergunta crucial: por que, mesmo com a superlotação do Canil Municipal, as ações de adoção promovidas pela prefeitura têm apresentado tão poucos cães disponíveis? Ele citou como exemplo uma feira realizada no Parque da Baronesa, em 26 de abril, onde apenas seis cães foram levados para adoção — um número surpreendentemente baixo, considerando que o canil abriga atualmente mais de 80 animais.
A resposta do secretário Márcio Souza foi clara e reveladora. Segundo ele, até o início de maio, a Secretaria de Qualidade Ambiental não tinha controle direto sobre a gestão do canil, o que gerava inúmeros entraves. “Tínhamos uma dificuldade muito grande de nos fazermos entender”, disse. Ele também apontou que a antiga equipe tinha um apego excessivo aos cães, tratando-os como se fossem de sua propriedade, o que dificultava a participação dos animais em eventos públicos.
Com a nova gestão, a expectativa é que essa realidade mude rapidamente. “Nos próximos eventos de adoção, levaremos mais cães do canil municipal, porque agora estamos sob uma nova condução”, afirmou Souza. Ele também destacou que manter um cão abrigado por tempo indeterminado, sem necessidade, acaba impedindo que outros em situação mais grave recebam os cuidados necessários. “Temos que ter desapego e entender que a adoção é parte essencial do processo”, completou.
Além disso, a Prefeitura quer intensificar campanhas educativas para fortalecer a cultura da adoção. A meta é mostrar que cães resgatados ou comunitários são tão afetivos quanto qualquer outro animal. “Eles precisam de uma família para receber amor, mas também para dar. Quem tem um cão em casa sabe o quanto isso transforma vidas”, disse o secretário, reforçando o compromisso com uma política de bem-estar que envolva toda a cidade.
Diálogo com protetores e participação popular
Outro eixo central da nova política de cuidado animal é o envolvimento direto de protetores e cuidadores. De acordo com o entrevistado, a gestão anterior era marcada por pouca abertura ao diálogo, o que dificultava ações conjuntas com a sociedade civil. Com a transição de comando, a Secretaria de Qualidade Ambiental passou a estabelecer pontes com quem atua há anos na linha de frente da causa animal.
Já está em funcionamento um canal de atendimento com a servidora Carolina, responsável pelo credenciamento dos cuidadores interessados em participar dos programas de castração e chipagem. O telefone para contato é (53) 99171-2870.
Na próxima quinta-feira, a Câmara de Vereadores sediará uma audiência pública sobre o bem-estar animal, convocada pela vereadora Marisa. O encontro contará com a presença da Secretaria de Qualidade Ambiental e será um espaço aberto para que protetores, cuidadores, voluntários e demais interessados apresentem demandas, sugestões e críticas. A iniciativa marca um novo momento na política municipal, com foco em escuta ativa e construção de soluções conjuntas. “Queremos que todas as vozes que atuam na causa animal em Pelotas sejam ouvidas. Só com participação direta da comunidade conseguiremos transformar a cidade em referência no cuidado e respeito aos animais”, declarou Márcio Souza.
Serviço
Audiência Pública sobre o bem-estar animal
Data e horário: Quinta-feira, às 14h
Local: Câmara de Vereadores de Pelotas
Descrição: Debate sobre a situação do Canil Municipal e apresentação de propostas para a política de proteção animal
Gratuito: Sim
Contato: Secretaria de Qualidade Ambiental – telefone (53) 99171-2870
Participação: Aberta a cuidadores, protetores, entidades e demais interessados
*Confira a entrevista completa no canal da RádioCom Pelotas no YouTube.
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