Arte e luta tomam a XV de Novembro em solidariedade à Palestina
Arte e luta tomam a XV de Novembro em solidariedade à Palestina
Neste sábado, Pelotas será tomada por um grito coletivo por justiça. O Festival Sofá na Rua — Palestina Livre ocupará o centro da cidade com arte, mobilização política e solidariedade ao povo palestino, em resposta ao genocídio em curso em Gaza. A proposta vai além do entretenimento: transforma o espaço urbano em território de escuta, denúncia e ação coletiva.
Em entrevista ao programa Contraponto, da RádioCom Pelotas, artistas, produtoras culturais e militantes do movimento pró-Palestina detalharam a construção do ato, destacando a importância de unir cultura e política para ampliar a conscientização sobre o que acontece no Oriente Médio e denunciar o apagamento promovido por discursos hegemônicos.
Ato nascido da indignação coletiva
O Comitê Solidariedade Palestina Pelotas surgiu como resposta à urgência de organizar a revolta diante dos ataques sistemáticos em Gaza. A historiadora Raquel Castilhos, integrante do comitê, lembrou que o grupo nasceu de uma grande reunião entre sindicatos, coletivos e partidos: "Entendemos que era hora de transformar nossa indignação em ação concreta. Surgiu o comitê e, com ele, a proposta de um festival que pudesse alcançar mais pessoas."
O convite ao coletivo Sofá na Rua partiu da necessidade de integrar arte e denúncia, e foi imediatamente aceito. A produtora Renata Pinhatti explica: "Essa edição é especial. Recebemos apoio imediato de artistas e técnicos, todos colaborando de forma voluntária. É a primeira vez que o Sofá na Rua se junta a tantos movimentos em um evento de tamanha dimensão política."
Mais que um festival, o Sofá na Rua — Palestina Livre é um manifesto vivo. "É um evento singular na história recente da cidade, abertamente pró-Palestina e contra o genocídio. A arte é política, a música é política", destacou Raquel.
Entender a Palestina para romper silêncios
A abertura do evento será marcada por uma aula pública com a pesquisadora Vanessa Salum, da Frente Palestina Livre de Santa Catarina. Ela propõe uma escuta qualificada sobre a história e os conflitos que envolvem o povo palestino, enfrentando a desinformação propagada pela grande mídia: "O que a gente vê é uma desumanização total. Os palestinos são reduzidos a números ou estigmatizados como terroristas."
Vanessa criticou a narrativa midiática que apresenta o conflito como uma guerra entre dois lados iguais: "Gaza é a maior prisão a céu aberto do mundo. As pessoas estão encurraladas, sem água, sem luz, sem assistência. E quando falamos disso, somos acusados de antissemitismo — uma confusão perigosa entre crítica ao Estado de Israel e ódio aos judeus."
A pesquisadora também destacou que o Estado de Israel não representa todos os judeus do mundo, e que muitos judeus, inclusive ortodoxos, se opõem às ações do governo israelense: "Existe uma tentativa de silenciar as críticas associando qualquer denúncia de violação de direitos humanos ao antissemitismo. Precisamos separar religião de política e garantir o direito à liberdade de expressão."
Mobilização construída por muitas mãos
A construção do festival é fruto de uma grande rede. Sindicatos, movimentos sociais, militantes culturais e artistas atuaram de forma integrada, como destacou Renata Pinhatti: "É a edição com mais colaborações voluntárias da história do Sofá. Desde a técnica de som até os artistas, todos toparam contribuir sem cachê."
O Comitê Palestina também buscou contato com comunidades árabes da região. Há expectativa da participação de representantes do Chuí e Jaguarão, além da presença confirmada da liderança Fatima Nassar. "Nosso objetivo sempre foi furar a bolha, atingir também quem não está diretamente ligado à militância. Por isso, a escolha do centro da cidade, com microfone aberto e acesso amplo", explicou Renata.
A vaquinha lançada para cobrir os custos do evento (como palco e panfletagem) também mobilizou apoiadores. Raquel ressaltou: "Não temos financiamento institucional. Tudo é feito com a força da militância. Cada sindicato, cada coletivo contribui como pode."
A força da arte como resistência
Para os artistas convidados, participar do festival é um posicionamento político. Pedro Soler, vocalista da banda Marinas Found, destaca: "O Sofá é mais que diversão. É um espaço de debate e ação. Aceitamos o convite de imediato porque é urgente se posicionar."
A cantora Êmily Passarinho, integrante da Batucantada, Filhas de Obá e Preto de Sapato, complementa: "Fazer arte é resistir. Quando eu canto ponto de terreiro em praça pública, estou afirmando um direito cultural e enfrentando apagamentos. A Palestina vive isso em outra escala, mas a lógica colonial é a mesma."
Êmily também destacou a simbologia do encontro: "Vamos reunir gente de muitas frentes — artistas, feirantes, militantes, lideranças políticas. Isso cria um corpo coletivo que grita junto. É poderoso."
Presença que transforma
A presença do público é essencial para o sucesso da mobilização. Pedro defende que eventos como o Sofá na Rua precisam se posicionar: "Nem todos os eventos são ou devem ser políticos, mas os que têm essa afinidade precisam se mostrar. Debater é preciso."
Êmily acrescenta: "Só me preparei para estar aqui porque sabia que precisava estudar mais. A entrevista virou um convite para aprender e entender. A arte pode provocar isso em todo mundo."
Ambos estão preparando apresentações curtas, mas marcantes, dentro da programação intensa que contará com mais de 10 artistas ou grupos. "Vamos fazer um show dinâmico, com músicas que reflitam o espírito do evento. E vou chamar minha enteada para um número percussivo com o tambor. É simbólico demais", concluiu Êmily.
Serviço
Festival Sofá na Rua — Palestina Livre
Data: sábado, 19 de julho
Horário: das 14h às 20h
Local: Rua Quinze de Novembro, nº 38 — entre a Lobo da Costa e a Tiradentes, ao lado do Mercado Central
Descrição: aula pública, feira criativa, falas de movimentos sociais e apresentações artísticas com shows de Êmily Passarinho, Marinas Found, Leandro Maia, Fátima Nassar (dança árabe), Orquestrado Sonhos, Xana Gallo, Guido, Batucantada, D Mix Charme, Bad Liddia e outros
Evento gratuito, aberto à comunidade e com acessibilidade em Libras
Campanha de arrecadação para custear o evento: vakinha.com.br
Apoio: RádioCom 104.5 FM
*Confira as entrevistas completas no canal da RádioCom Pelotas no YouTube.
0 comentários
Adicionar Comentário